Lenda da Mula sem cabeça
A lenda da mula sem cabeça teve sua origem nos povos da Península Ibérica e foi trazida para a América pelos portugueses e espanhóis. No Brasil, a lenda se espalhou pela área rural, pela zona canavieira do Nordeste e pelo interior do Sudeste do país. É uma das lendas mais conhecidas do Brasil e fala de mulheres que foram amaldiçoadas com a capacidade de converter-se em uma mula que possui labaredas no lugar da cabeça.
Segundo a lenda, toda mulher que mantivesse ligações amorosas com um padre, seria castigada e transformada em mula sem cabeça. A aparência seria de cor marrom ou preta, não apresentaria cabeça e no lugar apenas fogo; possuiria em seus cascos ferraduras que poderiam ser de aço ou prata, seu relincho seria muito alto que poderia ser ouvido por muitos metros e seria comum gemer como um ser humano.
O encantamento acontecia nas noites de quinta-feira, quando a mulher era transformada em mula sem cabeça. Ela lançava fogo pelo pescoço e corria em disparada pelas matas e pelos campos. Com as patas, despedaçava os animais e as pessoas que surgissem em sua frente. O encantamento desaparecia no terceiro cantar do galo. Nesse momento, a mulher voltava à sua normalidade, geralmente exausta e ferida.
Para acabar de vez com o encantamento que recaía sobre a pecadora, alguém deveria arrancar os freios da mula ou furá-la com algum objeto pontiagudo a fim de tirar-lhe sangue, mesmo que fosse apenas uma gota.
O encantamento também poderia ser tirado pelo padre (namorado da mula), que deveria amaldiçoá-la sete vezes antes de celebrar as missas.
A lenda da mula sem cabeça foi utilizada para reforçar os padrões morais durante o período da colonização, no sentido de amedrontar as mulheres para que elas não tivessem relações sexuais antes de casarem-se, principalmente com sacerdotes religiosos. No entanto, nunca foi encontrado alguma menção de punição dedicada aos padres que decidiam quebrar os seus votos.
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