O QUE (NÃO) FAZER NO
DIA DOS POVOS INDÍGENAS
Na data em homenagem aos primeiros habitantes do Brasil, uma série de estereótipos e preconceitos costuma invadir a sala de aula. Saiba como evitá-los e confira algumas propostas de especialistas de quais conteúdos trabalhar:
1.Refletir é sobre a nomenclatura. O correto é falarmos: Dia do indígena, Dia dos Povos Indígenas, Dia dos Povos Originários ou Dia da Diversidade Indígena. Muitas pessoas ainda pensam que índio e indígena é a mesma coisa, mas não é. O termo *índio* reforça um estereótipo de que todos os índios sāo iguais. Mas está bem longe disso. Temos no Brasil mais de 200 povos indígenas, cada um deles com suas características e costumes próprios.
2. Não use o Dia do Índio para mitificar a figura do indígena, com atividades que incluam vestir as crianças com cocares ou pintá-las.
Faça uma discussão sobre a cultura indígena usando fotos, vídeos, música e a vasta literatura de contos indígenas. "Ser índio não é estar nu ou pintado, não é algo que se veste. A cultura indígena faz parte da essência da pessoa. Não se deixa de ser índio por viver na sociedade contemporânea", explica a antropóloga Majoí Gongora, do Instituto Socioambiental.
3. Não reproduza preconceitos em sala de aula, mostrando o indígena como um ser à parte da sociedade ocidental, que anda nu pela mata e vive da caça de animais selvagens.
Mostre aos alunos que os povos indígenas não vivem mais como em 1500. Hoje, muitos têm acesso à tecnologia, à universidade e a tudo o que a cidade proporciona. Nem por isso deixam de ser indígenas e de preservar a cultura e os costumes.
4. Não represente o indígena com uma gravura de livro, ou um tupinambá do século 14.
Sempre recorra a exemplos reais e explique qual é a etnia, a língua falada, o local e os costumes. Explique que o Brasil tem cerca de 230 povos indígenas, que falam cerca de 180 línguas. Cada etnia tem sua identidade, rituais, modo de vestir e de se organizar. Não se prenda a uma etnia. Fale, por exemplo, dos Ashinkas, que têm ligação com o império Inca; dos povos não-contatados e dos Pankararu, que vivem na Zona Sul de São Paulo.
5. Não faça do 19 de abril o único dia do indígena na escola.
A Lei 11.645/08 inclui a cultura indígena no currículo escolar brasileiro. Por que não incluir no planejamento de História, de Língua Portuguesa e de Geografia discussões e atividades sobre a cultura indígena, ao longo do ano todo? Procure material de referência e elabore aulas que proponham uma discussão sobre cultura indígena ou sobre elementos que a emprestou à nossa vida, seja na língua, na alimentação, na arte ou na medicina.
6. Não tente reproduzir as casas e aldeias de maneira simplificada, com maquetes de ocas.
"Oca" é uma palavra tupi, que não se aplica a outros povos. O formato de cada habitação varia de acordo com a etnia e diz respeito ao seu modo de organização social. Prefira mostrar fotos ou vídeos.
7. Não utilize a figura do indígena só para discussões sobre como o homem branco influencia suas vidas.
Debata sobre o que podemos aprender com esses povos. Em relação à sustentabilidade, por exemplo, como poderíamos aprender a nos sentir parte da terra e a cuidar melhor dela, tal como fazem e valorizam as sociedades indígenas?
Realize pesquisas com as crianças. Se você dispor de internet na escola, leve as crianças até o laboratório de informática e façam pesquisas dos povos indígenas. Caso não tenha, peça para as crianças pesquisarem em casa e levar no dia seguinte. Faça você mesma uma pesquisa, levando imagens dos indígenas na atualidade. Elabore murais com as crianças utilizando os resultados dessas pesquisas.
O ganho pedagógico dessa nova metodologia tem tudo para modificar os conceitos até então enraizados sobre os povos indígenas. Ou seja, se a criança aprende desde cedo sobre a real contribuição desta nação para a sua cultura; possivelmente sua visão tende a não ser preconceituosa, uma vez que reconhece o valor dessa população para o Brasil.
Valorizar a cultura indígena é honrar a nossa história!
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